Que eu afirme que sou com a plena incerteza de ser a cada dia uma.

sexta-feira, 4 de março de 2016

aprendendo de novo com Kandinsky

pouco mais de um ano atrás visitei uma exposição do Kandinsky. até então não sabia nada a seu respeito, mas estava a procura de um passeio cultural e conhecer um artista russo parecia uma chance talvez única. suas obras são lindas. ele trabalha as cores de uma forma tão sensitiva que não me permite descrever. mesmo assim, os textos, dele e dos curadores, também ressoavam muito em mim. o nome da exposição era "Kandinsky: tudo começa num ponto" e uma das frases que mais me impressionou foi "eu vi todas as cores em espírito. selvagens linhas quase loucas foram esboçadas na minha frente". essa visita mexeu comigo. foi como me fizesse perceber um caos harmônico de transformações loucas e lindas. transformações que começam num ponto. eu decidi que aquele dia seria o meu ponto e abandonei uma série de perguntas inúteis, sem resposta e um pouco destrutivas que vinham me ocupando. era natural que eu as fizesse e eu não me culpava por isso, mas a sensação da sua inutilidade junto da sua própria natureza as deixavam um fardo. foi como da água pro vinho. não é que tudo tenha sido assim superado de um pro outro. mas naquele ponto eu mudei o curso da minha superação definitivamente e abandonei de uma vez uma série de travas pra seguir em paz meu caminho. fiz isso quanto a uma questão pontual que vinha sendo um vulcão em mim. hoje eu percebo que há muito tempo tenho buscado fazer isso com outras questões que vão e vem e são muito mais minhas. muitas vezes bate um cansaço. bate um desânimo de começar de novo. porque nos meus momentos mais otimistas me digo que haverá dali em diante "um ano novo" de Drummond, mas quem decreta sou eu, invés do tempo. parece até um sumo ato de responsabilidade por mim. percebo hoje como é mesmo exaustivo começar tudo do começo ou pensar que assim será. me construir desde o início (ou quase) é uma tarefa tão grande que é sempre impossível e, então, frustrante, o que me faz ser arremessada por mim mesma pra a bem longe do triunfo do meu decreto de vida nova. por minha sorte e por meu esforço em ser melhor comigo e, assim, com quem comigo convive, é que tenho percebido um caminho de aprendizado, que me faz abondanar o decreto de me criar do zero e traz suavidade pra trajetória. hoje rememorando essa exposição, por um acaso do touchscreen, me deu uma alegria imensa pela decisão que tomei naquela vez. mais do que isso, me deu a leveza de pensar de que o ponto do começo é o ponto de alteração da rota. é o ponto de se arriscar em novos caminhos, sem que isso represente que todo o percorrido até ali não tenha seu sentido e sua beleza. é mais uma etapa das transformações da vida, como linhas lindas e quase loucas.

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